domingo, 29 de março de 2009


Ela respirou fundo e foi ver seus emails. Era um noite como outra qualquer. Havia chovido, tinha esfriado, o som dos orvalhos caindo chamavam a atenção. É, ela não pensou que teria algo esperando por ela. Algo que tinha ido embora á muito tempo, que havia a deixado, que não se importava mais, que a fizera sofrer, chorar, até sangrar com os pulsos abertos. É, ela não pensou que se depararia com isso, e que ficaria estupefata.
Ao ler, reler, imprimir, reescrever...Lembrou-se de todo seu passado. Os beijos, os abraços, os carinhos trocados, os toques, as palavras sussuradas ao pé do ouvido. Até aquela suspirada frase de amor dita apenas uma vez. Ela se lembrou. Lembrou que ele a deixou, que ele a machucou, que ele pisou em seus sentimentos, que ele a trancou num cárcere de solidão, que ele era seu amado.
Colocou uma música. Som de piano bateu em seus ouvidos. Ela chorou. Limpou as lágrimas para ninguém perceber. Olhou a cicatriz de seus pulsos. Ah, fora ele quem a fez fazer aquilo! Por que ele voltava? Para que? O que aconteceu? Dizia palavras sobre um futuro incerto e como tinha sido feliz ao lado dela. Dizia palavras sobre o céu, falava do tempo, e de livros que leram juntos. Falava de suas escolhas medíocres, de sua péssima índole e de como ela o fizera feliz.
Ela era ingênua, o amava. Ambos concordaram que algo além atrapalhava o amor furtivo, mas ele a decepcionara. Não, ela não o queria de novo. Sim, ela o queria. Queria o gosto daquele beijo que roubaram dela, queria o abraço quente que retiraram de seu corpo, queria o deleite de deitar-se ao mesmo leito que ele mais uma vez. Mas ela não podia, apesar de tudo, não queria sofrer, queria viver.
Ao encontrá-lo, tudo que pensava não saía de sua boca. Onde estaria agora, aquele sujeito valente que a tinha largado? Onde estaria, agora, aquela outra mulher de olhos claros? Não, ele a amava. Descobriu isso tarde demais. Embora as palavras não saíam, o silêncio foi o suficiente. E o último beijo fez-se surgir daquelas bocas sedentas de amor, molhadas de solidão.
Ela virou-se. Ficou de costas, foi embora. Quebrada por dentro, sofrendo, chorando, procurando um futuro longe dele. Correu, ele foi atrás. Se amavam e como se amavam. Mas ela não virou-se, ele tinha que sofrer como ela sofrera.
Chegou em casa, tirou os sapatos de lona barata, desamarrou a pequena blusa de algodão, e a calça jeans, a única de marca que possuía. Deitou-se na cama, respirou fundo. Ah, que aperto no coração. Abriu o sutiã, e completamente pelada, olhou-se no espelho. Os olhos vermelhos, os cabelos loiros encaracolados despenteados. Seu corpo não era dos mais perfeitos, nem dos mais feios. Não era de toda bonita, mas ele a achava linda. Suspirou, deitou-se na cama novamente. Adormeceu...não acordou mais. Os anjos vieram buscar sua alma ao paraíso dos céus.
Naquela tarde chuvosa, ele se deitou sobre o caixão de mármore. E chorou. Chorou como nunca havia chorado antes. Ele a fizera sofrer, e agora, uma parte dele tinha ido embora, percebeu agora, o quanto sua vida era sem sentido.
Nayara K.
(Lady Byron)
- A inspiração desse conto, deixo apenas um lembrete:
"♥"

quinta-feira, 26 de março de 2009

Desabafo a ti

Palavras cuspidas em minha face alva
Névoas de veneno que exalavam ódio
Seu hálito quente e ácido
Tudo a me conspirar as banalidades estúpidas

Desapego-me a ti cada vez mais
Era a hora de me ver contente por vitórias,
Não vê, não sente, não quer...
Tão pequeno o coração empedrado de raiva.

Resquícios do que foi algum dia amado
Hoje me saem da alma,
cárcere de um prisioneiro acorrentado
E que já não fostes, mal consumado

Devias ao menos a idolatria que não tens
Navio negreiro onde repousa os teus sentimentos
Devias ao menos o orgulho que não tens
Digerido pelos seus vermes da luxúria.

E se a falta sentires de mim algum dia
Procure-me onde os abraços são mais apertados
os amores, mais verdadeiros
e os beijos doces mais molhados.

Nayara K.
(Lady Byron)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Grandes Irmãos


Salve, salve
heróis da ignorância e da futilidade
Salve, salve
Pessoas feitas de moedas e de consumo
Salve, salve
Máscaras do capitalismo de cheiro acre.
Que tal dar aquela espiadinha,
Nas faces sujas dos cidadãos sem nome?
Que tal dar aquela espiadinha,
No mundo cinza que você está pisando?
São nossos heróis esculpidos,
corpos perfeitos e sorrisos brancos,
que não se encaixam nos subúrbios
que não se encaixam na realidade.
Salve, salve
Os sorrisos que não tem mais valor
Salve, salve
O tempo gasto para telefonar
e não alimentar-se de conhecimento.
Mídias, médias, custo, lucro
Milhões, carros, e uma grande parede
Que domina, que alucina, que vicia
assim como o ópio na primeira tragada.
Crianças, pobreza, indigência, fome
Desemprego, desafeto e estrupo
Coisas na qual nossos Grandes Irmãos Brasileiros
Nos fazem esquecer, e nos remetem ao ignorante.
Salve, salve
Serão esses nossos heróis?
Nayara K.
(Crítica aberta ao programa Big Brother Brasil)

sexta-feira, 13 de março de 2009

O Concerto de seres


Álacres sons que dançavam em meus ouvidos
Um grande tropel a absorver tuas notas
Era antíofas ou salmos que eram proferidos
Fatos quiméricos sobre almas mortas
Tu que me corrompia com teus inefáveis sons
Soava-me a ária que agora me apaixono
Eram seus tantálicos e cabalísticos dons
Que na corda vibrante tornava-se, meu dono.
Guardo em mim teu acre eflúvio
E minha boca mádida do último beijo roubado
Espero ansiosava por músicas de um dilúvio
Na pequena rua feita de meninos do um novo Savo
Minha alma diáfana espera por ti, ansiante
Nessas melodias lamuriantes de amores
Em que cada vez me faço-me amante
Harmonias de Cor, Perfume e Sabores.
Nayara K.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Versos ao rapaz que passa


O som do meu piano mudo ecoa entre as paredes,
Hoje ele veio me dizer coisas comuns e não dei atenção,
Hoje ele veio me dizer coisas da vida, e não quis escutar
Mas quem dera, eu não pudera.

Hoje percebi que minha vida não é entendida
Hoje ele veio me dizer que não mais importava
E tarde da noite me liga, me chama,
Como um fantasma de sons que me procura.

Eclodindo novos ruídos em meu ouvido
Com uma visão pernóstica do ser
E erudindo causas e consequências
De algo forte como o amar.

Não o amo, eis o fato,
Mas temo em perdê-lo, eis a contradição.
Não me reténs os maus modos,
Mas me envergonhas os alvoroços.

Não me apanhas as mil maravilhas
E nem sei o porquê de escrever esses versos sem sentidos
Sem rimas e sem cores,
Mas recheados de sentimentos, meus sentimentos.

Hoje descobri que não consigo amar
E que minha maldição é te confrontar.

Nayara K.
(Lady Byron)