domingo, 10 de maio de 2009

Relíquias - Nayara K.

Capítulo II
Era por volta das cinco da tarde, e eu estava sentada no ponto de ônibus, com todos os meus livros no colo, completamente despenteada com um terrível cara de sono. A aula tinha acabado havia uns vinte minutos, e agora, não via a hora de chegar em casa. Ainda não tinha conversado com Inês, desde o horário de almoço, Conrado não desgrudou dela. Por um lado, ficava feliz pela minha amiga, Conrado era um excelente rapaz.
O sono batia enquanto esperava o ônibus. Já não podia controlar minhas próprias pálpebras. Como era horrível essa sensação! Fui inesperadamente despertada do meu estado sonâmbulo por Inês, que vinha esbaforida a minha procura.
- Haidéé, eu te procurei por todo o campus...
- Desculpe Inês... É que preferi deixar você e Conrado a sós.
- Ora, até parece que não me conhece! Sabe que pra ficar com você troco qualquer homem, até por mais bonito que seja.
- Obrigada... É difícil encontrar amigas como você, Inês. Acho que no meu caso, é só você.
- Tudo bem, chega de ficarmos nos melando. O que eu tenho pra te contar é sério.
- Bem, é sobre o que?
- Juan...
- O professor?
- O próprio.
Não sei descrever o meu rosto naquele momento. Estava atônita. Não tinha contado nada nem ao menos para Inês. Contado o que? Não tinha nada o que contar mesmo. Mas fiquei gélida e meu coração disparou. Gosto amargo na boca...
- Então, é... Diga Inês...
- Arranquei logo o anúncio quando ele colocou. Não esperei que outro visse. Ele está agendando uma excursão para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, só que tem um problema.
- E qual é?
- Ele só vai levar três alunos de toda a Universidade.
- Então quer dizer que não é uma excursão para os alunos de História?
- Não, não é. E os alunos têm até amanhã para se inscreverem e fazerem uma prova. Só vão aqueles que foram absurdamente bem na prova. E você conhece como são as provas do Juan... Eu nem me habilito a fazer esse tipo de coisa. Tome, pegue o anúncio aqui. – Inês me entregou uma folha sulfite A4 dobrada em vários quadrados. Letras em arial negrito destacavam o título que dizia: “História a fundo: Excursão para Biblioteca Nacional”; logo depois vinham as instruções para inscrição e etc.
Aquilo foi um choque, meu sono dissipou-se e sai correndo para a sala de Juan. Ainda deu tempo de gritar um “Muito obrigado, Inês.” Estava eufórica.

Correndo para encontrar Juan o mais rápido possível, passei perto do lugar onde supostamente havia visto uma mulher enterrando algo. Olhei atentamente para o solo, e realmente tinha um monte de terra mais alto do que de costume. Minha demasiada curiosidade me fez parar por um instante e ir analisar o monte de terra. Estava úmido. Deixei meus materiais no chão e ajoelhei sobre o chão e comecei a escavar o solo. De repente, ouvi uma voz surgir atrás de mim:
- Não deveria fazer isso, menina. Vai sujar suas mãos de terra.
Cai sentada no chão, manchando toda a minha calça jeans e o meu tênis de terra. Olhei para a figura que me chamava. Só me aliviei quando percebi que era Juan.
- Ah, olá, professor. Ahn... Er... Desculpe, eu...
- Qual a sua intenção em cavar buracos, Haidée? Você está escondendo ossos como cão de desenhos animados?
- Não, não... Na verdade, eu estava te procurando. Vim falar sobre o à excursão para a Biblioteca Nacional.
- Não pensei que iria demorar tanto. Esperava que fosse a primeira a se inscrever.
- Infelizmente não. Inês arrancou o anúncio para me avisar depois, mas, acabamos nos desencontrando e só fiquei sabendo agora.
- Então venha comigo. Vou te dar a ficha de inscrição. E mais uma coisa: se fosse você amarrava uma blusa de frio na cintura. Você se sujou bonito.

Novamente minhas faces ficaram quentes e ruborizadas. Mas agora, era por causa da situação em que se encontrava a minha traseira, horrivelmente cheia de terra.
Entrei na sala de Juan e preenchi rápido a ficha de inscrição. Ele me disse que quarta feira era o dia da prova, e para eu chegar uma hora mais cedo para fazê-la. Era algo bem sucinto, visto que não tinha recebido muitas inscrições. Não mais que dez alunos. Mas, entre esses dez, iam ser escolhidos apenas três. E isso, me deixava nervosa, pois viajar para a Biblioteca Nacional era um sonho meu desde a época do Ensino Médio.
Na volta para o ponto de ônibus, acabei passando por aquele monte de terra novamente. Fiquei tão hipnotizada por ele, a visão era até bonita. Um pequeno buraco escavado pelas minhas próprias mãos. Mas dessa vez, não parei. Continuei minha caminhada. E estava tão absorvida nos meus pensamentos que acabei trombando com alguém. Alguém com um cheiro agridoce. Alguém com um cheiro familiar. Caim.

3 comentários:

Mateus Araujo disse...

Como será tal Caim?!
:D

AMOVC.COM

Mírian Mondon disse...

Oi Nayara,
Parabens por seu belo blog, passei momentos agradaveis lendo seus escritos. Parabens!

Daniel Braga disse...

OI, amore.. seu conto está realmente prendendo.. tá muito bom. Tá fazendo do blog seu livro, agora? HAha.. beijos.

~Até a próxima.

*DB*