sábado, 26 de março de 2011

- meu pretérito, meu presente



Ela já tinha deixado de acreditar nas coisas boas, nos sentimentos puros e nas pessoas. Para ela, nada mais importava. Era um coração de pedra gelada, da qual o sangue quente teimava em pulsar. Ela queria se entregar aos vícios, pois eram a única fonte de prazer para os desapegados. E sim, ela era uma desapegada, uma ninguém que vagava por um mundo de rostos iguais e olhos vazios. E assim, andando sem rumo por entre faces perdidas, um brilho ofuscante a cegou por um momento.
Ela pensou estar delirando e novamente, se abraçou ao seu desapego companheiro, e tapou os olhos. Não queria enxergar a luz daquele novo destino que cruzou seu caminho. Mas, uma fresta de claridade ainda teimava em lhe abrir os olhos, mostrando o quão belo era a vida, se puder lhe dar uma única chance. Ela resolveu encarar aquele novo rosto delicado. Havia tempo que não sentia algo parecido. Todo seu corpo parecia estremecer enquanto o sangue grosso e quente voltava a circular por entre seus órgãos empedrados.
Ele a olhou e sorriu. E o que era aquele sorriso! Ela nunca saberia descrever com palavras. Quando ele sorria o mundo todo parecia parar de girar, só para contemplar a beleza daquele movimento de felicidade, aquele sorrir. Ela deixou as bochechas corarem, o cabelo cair, e se enxergou, por um longo momento, como uma criança ingênua, pronta para acreditar novamente em tudo que o mundo pode lhe oferecer.
Ele a segurou pela mão. E Ela não sabia como reagir. Os anos de desapego tinham a deixado uma cicatriz enorme. Mas, Ele parecia não se importar. Ele a curava.
Ele e Ela eram um só. Ele pousava nela um beijo doce e morno, e Ela largaria tudo para sentir aqueles lábios ao menos uma vez mais. Ela agora tinha medo. Medo de que Ele fosse embora, medo de não sentir o abraço macio dele. Mas esse medo era tão bom! Ela só podia temer a perda de algo que possuísse. E Ela o possuia. Então, nada mais desejava.
Ela largou para trás o passado desapegado, para dar lugar a um presente escrito com Amor.

Nayara K.

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