quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Nobre bebida


Traga-me mais uma dose,
Tão doce esse gosto cítrico,

Despeje em mim o néctar etílico,

Cheire o éter de minha pele.


Ela andava tristemente pela casa. Nua, cabelos embaraçados, olhos molhados...Desejava sumir. Fugir daquele tedioso mundo em que vivia, daquelas pessoas que convivia. Fugir da necessidade de amar e dos rótulos pré-meditados.
Abriu a geladeira, sentiu o arrepio do vento frio que vinha daquela máquina. Sua pele arrepiou, e quis alguém para abraça-la. Não havia ninguém. Somente ela, só na cozinha branca. Embebedou-se de vinho barato, derramou o álcool na pele, sentiu o gosto macio da embriaguez e entregou-se á Dionísio.
Abriu a janela, a Lua alta no céu, ria dela. A noite esfriava seu corpo e o som dos carros passando aumentava o sentimento de solidão. Decidida, largou a taça e derramando todo o líquido em seu corpo, bebia direto da garrafa.
Até que sua campainha tocou. Quem seria? Ninguém vinha visitá-la. Era apenas mais uma alma perdida. Não preocupou-se em colocar roupas, ou de lavar o corpo que cheirava cítrico e tinha tons avermelhados.
Ele entrou por aquela porta. Lambendo todo o corpo dela. Desejando sugar ao máximo todas as gotas de etílico que ficaram em seu corpo e também sugá-la junto. Consumi-la. Inteiramente.
Ele queria mais. O cheiro do vinho aguçava seus instintos masculinos. Corpos se entrelaçaram enquanto a bebida escorria por todos os lados.
Ele a apertava, mordia, beijava... Ela, enfeitiçada pela bebida e pelas carícias, suspirava enquanto o sentia. Envolveram-se em uma chama ardente, consumiram-se no chão frio, acompanhados pelo álcool. Antes assim, a bebida que trazia felicidade. Antes embriagados, pois isso os animava mais.
Assim, ele estourou em cima dela. Ela gritou, ele se satisfez. Levantou-se do chão, e procurou em suas roupas jogadas algum objeto. Ela totalmente encantada por seu deus Dionísio ficou estirada ao piso frio, esperando mais uma dose daquele amor selvagem.
Ele achou o que procurava. Enquanto vinha novamente em cima dela, o objeto brilhante reluzia ofuscante. Embriagada, não teve tempo de gritar e foi consumida novamente.
Ele, com aquele objeto tão reluzente, a esfaqueava, impiedoso. Sangue escarlate misturava-se ao veludo do vinho, álcool e vida esparramados no chão. Ainda deu tempo de beijá-la a última vez. Ele beijou os lábios, beijou o ventre, sugando-o.
Então, foi embora. Ela lá ficou, entre a bebida e o amor, cegada pela Morte.

Nayara K.
(Lady Byron)

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