quinta-feira, 31 de março de 2011

Coita


Aos olhos meus te tenho por inteiro,
Tenho a beleza mais pura
E o que seria de ti, se eu cegasse?
Todos os traços finos ainda continuariam intactos?

Queria te dizer mais palavras bonitas,
Se elas existissem pra você.
Alucinados pelo toque calmo de duas mãos,
Agarrar-me aos teus cabelos.

Amor, se pudesse te mostrar as coisas do Éden,
Será que seríamos felizes como hoje?
Será que tudo seria tão bom e doce,
como a nuvem em que andamos?

És um anjo de vida curta e passageira,
Que só eu posso pedir milagres.
Tu existe para mim, ser celeste
E estarás ai quando a noite chegar?

Eu irei ao infinito para te buscar,
E não importa se não estiver lá,
Pois no caminho poderei te imaginar,
Com o Amor que só eu sinto.

Seu beijo frio que derrete meus lábios,
Chorar o riso que me dás,
Seremos um só
O que os poetas chamam de Amor.

Nayara K.

sábado, 26 de março de 2011

- meu pretérito, meu presente



Ela já tinha deixado de acreditar nas coisas boas, nos sentimentos puros e nas pessoas. Para ela, nada mais importava. Era um coração de pedra gelada, da qual o sangue quente teimava em pulsar. Ela queria se entregar aos vícios, pois eram a única fonte de prazer para os desapegados. E sim, ela era uma desapegada, uma ninguém que vagava por um mundo de rostos iguais e olhos vazios. E assim, andando sem rumo por entre faces perdidas, um brilho ofuscante a cegou por um momento.
Ela pensou estar delirando e novamente, se abraçou ao seu desapego companheiro, e tapou os olhos. Não queria enxergar a luz daquele novo destino que cruzou seu caminho. Mas, uma fresta de claridade ainda teimava em lhe abrir os olhos, mostrando o quão belo era a vida, se puder lhe dar uma única chance. Ela resolveu encarar aquele novo rosto delicado. Havia tempo que não sentia algo parecido. Todo seu corpo parecia estremecer enquanto o sangue grosso e quente voltava a circular por entre seus órgãos empedrados.
Ele a olhou e sorriu. E o que era aquele sorriso! Ela nunca saberia descrever com palavras. Quando ele sorria o mundo todo parecia parar de girar, só para contemplar a beleza daquele movimento de felicidade, aquele sorrir. Ela deixou as bochechas corarem, o cabelo cair, e se enxergou, por um longo momento, como uma criança ingênua, pronta para acreditar novamente em tudo que o mundo pode lhe oferecer.
Ele a segurou pela mão. E Ela não sabia como reagir. Os anos de desapego tinham a deixado uma cicatriz enorme. Mas, Ele parecia não se importar. Ele a curava.
Ele e Ela eram um só. Ele pousava nela um beijo doce e morno, e Ela largaria tudo para sentir aqueles lábios ao menos uma vez mais. Ela agora tinha medo. Medo de que Ele fosse embora, medo de não sentir o abraço macio dele. Mas esse medo era tão bom! Ela só podia temer a perda de algo que possuísse. E Ela o possuia. Então, nada mais desejava.
Ela largou para trás o passado desapegado, para dar lugar a um presente escrito com Amor.

Nayara K.

domingo, 20 de março de 2011

Para Capitu


Cabelos negros que caem em teu rosto angelical,
pele doce e macia que enfeitiça os homens mais puros
Entregando-se ao pecado íntimo.
És tu, óh Capitu,
vítima ambígua de tantos séculos,
Mulher menina de tantos contemporâneos.

Olhos de ressaca,
Vá, de ressaca.
Dos mares que tragam o menino ingênuo
Das curiosidades que brilham em tua pupila,
Embriagando os marujos mais valentes,
Iluminando as ferozes tempestades.

És tu, cigana dos olhos,
De tantos penteados teus
Clamam as mãos para tocar-lhe as tranças,
E beijar-te a boca de mel,
O desejo venenoso dos namorados.

És tu, óh Capitu,
Recheada de contradições de espírito,
modos dissimulados que invadem meu sono,
Amores verdadeiros de dois jovens.


Nayara K.

sábado, 12 de março de 2011

- Tempestade


Ela estava quieta e pensativa. Sentia o cheiro da grama, do orvalho e da madeira. Tudo parecia tão calmo, tão harmonioso. Ela não queria deixar essa sensação de paz ir embora. Respirou fundo. Um vento fresco tocou levemente a pele de sua face. Arrepiou-se. O vento vinha lhe trazer notícias. Quais notícias? Nem ela mesma sabia responder. O vento sussurrou novamente, mas ela não falava a língua dos ventos. Resolveu seguir a brisa. Quem sabe, a brisa a levaria até ele. Os pés pequenos faziam estralos na grama a cada passo. Os raios mornos do Sol desciam em todo seu corpo, e também queriam lhe dizer algo. Mas ela não falava a língua do Sol.
De repente, a brisa, o vento, o Sol foram embora. O céu ficou cinza, e roncos do trovão invadiam o céu. O Sol gritou. Mas ela não entendia seus gritos. A brisa se despediu, mas ela não respondeu. A chuva caía impiedosamente. Os gritos do Sol foram abafados, a despedida da brisa foi levada. Sobrou só ela e as gotas grossas. Gotas que feriam seu corpo com uma intensidade feroz, e riam sadicamente enquanto ela corria, tentando se proteger. As gotas riam. Ela não se importava. Não conseguia entender os risos. O trovão roncou de novo, sua voz grossa ecoava em todos os cantos. Ela sentiu medo.
Uma árvore amiga sorriu para ela. Um abrigo, pensou. Foi abraçada pelo tronco úmido de uma velha árvore. As folhas balançavam e cantavam ao som da chuva. Ela sentiu medo da árvore. Talvez a tempestade conseguisse a encontrar fácil ali. A árvore, ouviu os pensamentos dela. Sentiu-se chateada e chorou. Ela não compreendia o choro, ela não ouvia o choro. Mas sentia. A árvore não lhe parecia tão confortável. Foi então que viu, ao pé do tronco úmido, uma grafia familiar. Um pobre coração grafado no prego, deixando uma cicatriz eterna na madeira. Ela se abaixou. Tocou o desenho infantil. Ele. Beijou lentamente aquele desenho velho. Sentiu o gosto da árvore.
O som forte do trovão estremeceu todo o seu corpo. Ela caiu de joelhos na terra. Uma luz forte no céu, cortando o horizonte negro. Foi quando ela percebeu, que a luz vinha em sua direção. A luz atingiu em cheio o desenho do velho coração. A árvore gritou de dor, e ela também.
Foi quando, em meio a dor de Natureza e ser humano, ela pode ouvir todos os gritos e apelos dos seres que a cercavam. E eles só diziam uma coisa:
- Não se assuste com a tempestade que a cerca.

Nayara K.

terça-feira, 8 de março de 2011

- toque,


"De que lhe adianta ter asas, se você não pode sentir o vento?"
- City of Angels

O toque de sua mão era quente e macio. Estavam abraçados como um só, entrelaçados ao mesmo corpo e ao mesmo amor. Era tudo o que importava. Esqueciam do tempo, esqueciam das falas, esqueciam de viver, pois estavam no Paraíso. Mas ele não a sentia. Para ele, o toque dela era vazio. Para ele, o beijo dela não tinha gosto. Mas ele tinha uma certeza: com ela, ele podia ser humano, ele podia amar.
Ela chorava depois que ele sumia. Ela o queria de novo. Ela queria seu abraço quente para fazê-la dormir, queria correr para a pureza do seu olhar e aquele ar inocente que cobria o caminho por onde ele passava. Mas ela não o tinha. Não como o queria. Ela queria que ele sentisse o mesmo que ela e pudessem compartilhar o calor dos corpos. Ela o sentia. Ele era o vazio. Mas ele a desejava mais do que nunca. Anjos podem chorar? Não sei. Mas podem amar.
A eternidade com que todos sonham, parece um fardo quando se ama. Um único toque de amor pode valer mais que mil anos vazios. Era isso que ele queria. O toque dela. Sentir o perfume doce dos cabelos delicados, acariciar a pele lisa e açucarada, beijar os lábios de quem tanto amava. Ele trocaria toda a eternidade por um pouco disso. Ele trocaria a música do Sol, trocaria o poder de voar, trocaria tudo para sentir o mesmo que ela. Para tocá-la.
E assim, ele caiu. Caiu e sangrou. Caiu na terra dos vivos, caiu de amor. A dor foi insuportável, e ao mesmo tempo tão gostosa. Ele sangrava. Sangue tinha gosto de ferro. Sorriu. Como a dor era maravilhosa! Como sentir o vento era bom. Como sentir a água salgada do mar era bom. Mas o que tornava sua dor perfeita era o carinho das mãos dela. E agora sim, eram um só. Eram um só de corpo e alma. Ele a amou. Ela o amou. Isso era o Céu.
Mas a vida pode ser injusta com aqueles que amam. E agora, o anjo era Ela.

Ele queria sentir, apenas mais uma vez, o toque de sua mão.
Trocaria a eternidade por isso.


- Cidade dos Anjos, 1998.

Texto de: Nayara K.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

- be with you,


'cause I'm with you, nothing else matters.'

Quero guardar os momentos que nos unem,
Sonhar com teu cheiro doce,
Roubar o seu olhar singular,
E nada mais importará.

Talvez o tempo corra rápido demais,
E sejamos vagarosos em aproveitá-lo,
Ou extasiados para prestar atenção,
No tiquetaquear do relógio.

Dê-me mais um sorriso,
É tão bom observar sua felicidade,
Junte-se comigo novamente,
Não quero perder nada com você.

Há muito tempo estou esperando alguém
Que me dê a mão quente e carinhosa,
Um corpo morno e aconchegante,
Coração acelerado, pulsante.

É quando estou com você,
e nada mais importa.

Nayara K.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Enjoy


Essa noite eu quero dançar, me entregar,
Quero que o mundo pare de girar,
E eu fique tonta de tanto dançar,
E deixar para o final o meu modo de amar.

Está sentindo essa batida inebriante?
Todos ao seu lado não conseguem ficar parados.
Isso é tão bom! Talvez umas doses a mais,
Façam com que você seja o ritmo que toca.

Essa noite estou brilhante mais que uma estrela,
Estou no meio da multidão, rebolando...
Procurando alguém que me leve para casa,
E não me ligue no dia seguinte.

É apenas um modo de se divertir,
De esquecer os problemas que te cercam
A rotina tediante, o amor não conquistado,
As apostas perdidas, esquecer a si mesmo.

Olhe as luzes coloridas que nos hipnotizam
Você está no meio da multidão?
Se te encontrar não te reconhecerei
Estará escuro demais.

É isso que preciso, um sorriso no rosto.
Estou dançando e não quero parar
Serei a última a sair dessa pista
Até meus pés começarem a rachar.

Nayara K.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Erros


Deitada no chão frio da sala, ela se perguntava o porquê de tantos erros sucessivos. Ela queria arrancar a própria pele, vomitar as enzimas digestivas e roer as unhas. Estavam tão bem daquele jeito, estavam tão próximos e ao mesmo tempo, tão separados. Ela o desejava mais do que a noite deseja Lua e o dia, o Sol. Talvez fosse perda de tempo sofrer por aquilo que não podia tocar. Talvez tivesse sido tudo uma perda de tempo. Ou não. Não para ela. Não tinha sido pois ela sentia aquele vazio dentro do corpo. Ela sentia que um pedaço de alma não estava mais no seu corpo. Ah, que sensação horrível ! Querer chorar, mas não ter lágrimas para derramar. A maquiagem borrada escorrendo pela face branca. Os olhos molhados e vermelhos. A boca soluçando e salivando, mordendo a língua com os dentes trêmulos, provocando pequenos cortes, deixando um sabor amargo e ferroso.
Levantou-se com certa dificuldade, apoiando no sofá cor bordô. Foi até a geladeira, abriu uma grande garrafa de líquido transparente e cheiro forte. Começou a beber tão deliciosamente, engasgando nos primeiros minutos que virava a bebida. Tossiu. As pernas bambas e peladas. Voltou a tomar da garrafa, um gesto guloso, a cabeça rodando e os cabelos embarrassados.
Foi até seu quarto, limpando a maquiagem borrada do rosto, e com as mãos trêmulas passava o batom vermelho escarlate, o delineador preto. Vestiu o short preto, e o scapin amarelo. Ainda com a garrafa na mão, saiu da sua casa para a noite fria da cidade, deixando no caminho pedaços do seu coração.
Queria encontrá-lo. Procurava-o freneticamente pelas ruas mal-iluminadas. Voltou a chorar, tomando mais goles do etílico em sua mão. Não o encontrava. Muitos rostos. Nenhum familiar. Na porta de uma casa de shows alguns garotos gritaram pra ela. Mais erros. Um foi agarrado pela gola da camisa de marca, e com uma mordida nos lábios do garoto, ela pediu cigarros. Ele não tinha. Ela cuspiu em sua cara. Saiu agitando os braços. Ela não o achava. Onde ele estava ? A única pessoa que a interessava. Ela era a errada. Ele não iria aparecer. Lembrou-se de quando estavam juntos. Mãos dadas. Ele tirando as mechas do cabelo dela, que teimavam em cair no rosto. Fumaça. Estava tudo embaçado agora. O gosto amargo na boca. Vômito. Estava com as mãos e os joelhos na calçada. Vomitava sem parar. Ao se levantar, quebrou o salto. Ela o queria tanto. Ela queria pedir desculpas. Ela queria que ele lhe desse uma segunda chance.
Alcoolizada, desapontada, quebrada, apaixonada...
Com um último gole da sua bebida, urrou ferozmente. Quebrou a garrafa na sargeta, jogando cacos de vidro por toda a rua. Tinha arranhões por toda a perna agora. Sangrava pelos joelhos. Foi atravessar a rua. Luzes. Som estridente. Buzina. Escuridão. Acabou tudo. O ponto final.

O motorista saiu do carro. Uma moça! Mais essa agora. Ele estava com uma pressa para encontrar uma pessoa. Uma pessoa que havia quebrado todas suas esperanças. Uma pessoa por quem ele estava apaixonado. E amar era isso. Sofrer. Perdoar. Ser idiota o suficiente para perdoar. Ela podia estar em todos os lugares. E agora tinha atropelado uma moça.
Olhou o corpo de mulher no chão. O sangue escarlate. Não ! Ele conhecia o sapato amarelo. Ele conhecia aquelas pernas e aqueles cabelos. Tirou os cabelos ensanguentados da face da moça. Ela.
Era ela.

Nayara K.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

how important,


You don't know how important you are.
Baby, I just wanna show you,
Our little world, with no name.
Come with me to anywhere,
Where we can hold each other
Like we never did before.

Can't you hear my scream?
It's always for you.
Lead me, guide me, the way is dark.
The light is your smile,
And I surrender to your arms.
So don't go away, my dear,
Don't go away without saying something
Something that I adore to listen
Something about you and me.

I feel lost, I don't know about my future
But I can say "It's never gonna change,
how important you are to me."
Please, I want to sleep well
hugging the pillow with your scent,
my baby.

Someday we find ourselves.
I pray that the day will come soon.
Just remember:
I'll go wherever you will go.

Nayara K.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011


Eu ando meio estranha esses dias. Sentimentos misturados me torturam mais do que eu posso aguentar. Estou com saudade. É, saudade. Saudade do modo como acaricia meus cabelos, como toca a minha pela, como me beija, como me morde, como me quer e como me atura. Estou com saudades de sentar em seu carro, ouvir músicas sem sentido, ouvir o programa de rádio enquanto nos agarramos sedentos pelo vício do prazer. Estou com saudade de sentir medo ao teu lado, de pedir pra você parar, mas na verdade, pedindo mais e mais. Estou com saudade de reclamar, que era o que eu mais fazia quando estava junto com você. Sim, como eu reclamava. Nada estava bom, seu comportamento não era bom, o local não era bom. Nada me agradava. Comecei a sentir um amargo na boca enquanto você me beijava. Sim, eu reclamava. Sim, eu não gostava. Eu sentia calafrios quando se aproximava. Mas o tempo passou, e hoje eu sinto saudade. Hoje eu reclamo pois não está ao meu lado. Hoje eu reclamo pois não tenho seus beijos, mesmo aqueles amargos. Hoje reclamo pois as músicas e o programa de rádio ouvidos no carro nunca terão o mesmo impacto.
Eu sinto saudade. Eu sinto saudade de você, algo que nunca pensei que aconteceria. Fui tão dura, quis me mostrar forte. Mas sou fraca. Sou fraca demais. E adianta buscar em outros braços aquela ternura que me dava? Não. Sinto a sua falta, e mais nada.

Nayara K.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Cavaleiro Medieval


Chega a noite escura trazendo suas ameaças,
Vá correndo com o seu cavalo para as terras distantes,
Que Deus o abençoa enquanto foge,
Vítimas de trevas corrompidas do enxofre.

Óh, cavaleiro medieval de armadura prateada,
Salve-me dessas ânsias e cóleras do mundo noturno,
Tua espada ofuscante que derrota as sombras,
És o teu sangue nobre contrastando nesta terra.

Venha a galope, não me deixes, amado.
Tão sombria a estrada do destino
Por entre essas florestas frias
Encontra-se o nosso pequeno mundo feudal.

Nayara K.
(Lady Byron)