domingo, 17 de maio de 2009

Relíquias - Nayara K.

Capítulo III

Caim possuía um cheio típico agridoce. Algo que unicamente dele. Era alto, o que me fazia erguer a cabeça para poder contemplar seus olhos negros como carvão e profundos como as águas do mar. Seu cabelo formava lindas cascatas de cachos que tampavam sua nuca e caia sobre seus olhos. Tinha a pele morena bem clara e os dentes alvos. Da última vez que o vira, usava aparelho, porém, agora só havia os dentes perfeitamente alinhados. Não chamava muita atenção como os outros garotos que havia na universidade, mas era de uma bondade e uma alegria sem tamanho, e isso irradiava luz por todo o seu corpo, deixando-o o mais belo dos meninos (pelo menos para mim).
Logo que percebi que era ele, fiquei estática. Não tinha reação nenhuma. Olhava estupefata, com os olhos totalmente arregalados e um ar de nostalgia misturado com excitação me corrompeu. Era como reviver minha época adolescente, e relembrar o momento em que conheci Caim.


Era uma tarde chuvosa e cheguei ao conservatório de música totalmente molhada. Isso era Agosto de 2007. Timidamente me sentei no fundo, esperando que ninguém notasse a minha presença, ou que pelo menos me ignorassem. Tinha vindo transferida de outro conservatório que não tinha me adaptado, principalmente com as pessoas. Nunca fui de um grande carisma.
Caim não foi o primeiro a olhar para trás para me analisar. Aliás, esse dia ele chegou atrasado, muito atrasado. Outro menino me observava com um olhar delicado, mas que me incomodava. Eu via que as meninas cochichavam sobre mim. Não me importei. Não fazia importância. Estava lá para especializar o que sabia de música, o que minha mãe havia me ensinado. A porta se abriu e o cheiro agridoce encheu toda a sala. Ele entrava desesperado, desculpando-se com a professora e dizendo que tinha perdido a hora. Desculpa clássica, eu pensei. E Caim foi obrigado a sentar do meu lado, no fundo da sala, pois não havia outro lugar. Nunca mais me esqueci desse dia, devido ao fato de começar a acreditar em anjos.


Caim olhou-me serenamente nos olhos, e fui despertada da minha nostalgia a ouvir sua voz.
- Haidée?!
- Caim?! Não acredito que é você... Depois de todo esse tempo, você... Você voltou!
- Na verdade, Haidée, eu vim ver Juan. Suspeito que você o conheça que no mínimo ele seja o seu professor.
- Ah, sim. Acabei de conversar com ele. Mas, o que quer com um professor de História? Pensei que estivesse em outra cidade, fazendo Música.
- Na verdade estou sim, Haidée. Só que eu vou fazer um trabalho especializado em História da Música e minha professora, me mandou vim aqui procurar o Juan. Disse que ele poderia me ajudar e etc. e tal. Não sei.
- É, ele é ótimo. Vai gostar dele. Eu tava ajeitando a minha inscrição para a excursão dele para a Biblioteca Nacional e...
- Biblioteca Nacional?! – por um momento o tom de excitação e euforia de Caim realmente me assustou.
- É...
- Vamos, Haidée. Vou fazer essa tal inscrição.
- Caim... Espera... Eu...
- Você nada! Faz anos que não a vejo, e isso realmente me fez mal.
- A mim também...
- Então venha comigo! Depois vamos tomar um café no Sweet’s and Coffe’s. Nunca me esqueço dessa cafeteria quando venho pra cá.
Caim me puxou pelo braço, levando-me de novo a sala de Juan. Fizemos a inscrição e tivemos que ouvir uns resmungos de Juan que pelo visto, queria logo que fossemos embora. Tinha mudado de roupa da hora em que eu fui até a sala dele, e na hora que fomos Caim e eu. Provavelmente iria sair. Senti uma ponta de Iago em mim. Mas decididamente, isso não importava. Estava disposta a passar o resto de minhas horas com Caim, conversando sobre coisas tolas e rindo das coisas passadas. Meu melhor amigo que ressurgia das cinzas.

2 comentários:

Daniel Braga disse...

Own... que bonitinho.. adorei. Você está escrevendo muito bem, amore.

~Até a próxima. Beijos.

*DB*

Mateus Araujo disse...

Meu Deus como eu te amo !
( Nunca uso a palavra Deus, no terceiro mandamento: - Não tomarás o nome do senhor, teu Deus, em vão. )