terça-feira, 8 de março de 2011

- toque,


"De que lhe adianta ter asas, se você não pode sentir o vento?"
- City of Angels

O toque de sua mão era quente e macio. Estavam abraçados como um só, entrelaçados ao mesmo corpo e ao mesmo amor. Era tudo o que importava. Esqueciam do tempo, esqueciam das falas, esqueciam de viver, pois estavam no Paraíso. Mas ele não a sentia. Para ele, o toque dela era vazio. Para ele, o beijo dela não tinha gosto. Mas ele tinha uma certeza: com ela, ele podia ser humano, ele podia amar.
Ela chorava depois que ele sumia. Ela o queria de novo. Ela queria seu abraço quente para fazê-la dormir, queria correr para a pureza do seu olhar e aquele ar inocente que cobria o caminho por onde ele passava. Mas ela não o tinha. Não como o queria. Ela queria que ele sentisse o mesmo que ela e pudessem compartilhar o calor dos corpos. Ela o sentia. Ele era o vazio. Mas ele a desejava mais do que nunca. Anjos podem chorar? Não sei. Mas podem amar.
A eternidade com que todos sonham, parece um fardo quando se ama. Um único toque de amor pode valer mais que mil anos vazios. Era isso que ele queria. O toque dela. Sentir o perfume doce dos cabelos delicados, acariciar a pele lisa e açucarada, beijar os lábios de quem tanto amava. Ele trocaria toda a eternidade por um pouco disso. Ele trocaria a música do Sol, trocaria o poder de voar, trocaria tudo para sentir o mesmo que ela. Para tocá-la.
E assim, ele caiu. Caiu e sangrou. Caiu na terra dos vivos, caiu de amor. A dor foi insuportável, e ao mesmo tempo tão gostosa. Ele sangrava. Sangue tinha gosto de ferro. Sorriu. Como a dor era maravilhosa! Como sentir o vento era bom. Como sentir a água salgada do mar era bom. Mas o que tornava sua dor perfeita era o carinho das mãos dela. E agora sim, eram um só. Eram um só de corpo e alma. Ele a amou. Ela o amou. Isso era o Céu.
Mas a vida pode ser injusta com aqueles que amam. E agora, o anjo era Ela.

Ele queria sentir, apenas mais uma vez, o toque de sua mão.
Trocaria a eternidade por isso.


- Cidade dos Anjos, 1998.

Texto de: Nayara K.

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